EJA e territorialidade
A imprescindibilidade de demarcar espaços
Resumo
O educador da EJA não pode ignorar o contexto histórico, social e cultural em que vive, muito menos as mazelas resultantes de um passado exploratório. Tal como os povos tradicionais sofrem um processo de marginalização e disputa constante por seus territórios, o campo da EJA também vivencia constantemente esses tensionamentos na busca por um lugar na sociedade e, de preferência, um lugar de maior destaque e respeito.
Grosso modo, todo educador da EJA que milita por tal modalidade de educação já passou por momentos de “disputas territoriais”, ora no âmbito abstrato, na busca por momentos de fala e valorização, ora no âmbito físico mesmo, no sentido de a sociedade (e a escola) não propiciar(em) espaços físicos para a educação de jovens e adultos. Como exemplo disso, podemos citar os constantes fechamentos de cursos da EJA no Brasil, para darem espaço a outras modalidades ou a projetos mais “prestigiados”, muitas vezes com o argumento da “alta evasão escolar na EJA”, explicitando (de modo escancarado) a desvalorização da EJA no Brasil.
E o que acontece quando algo é desvalorizado e marginalizado? Perde-se território e, junto com ele, enfraquece-se a territorialidade, muitas vezes alcançada a duras penas. Com base nessa realidade, é que podemos asseverar que o educador da EJA é constantemente um lutador por territórios, sejam eles físicos, culturais, identitários e outros. Trabalhar na EJA significa estar sempre pronto para a rebeldia contra um sistema hegemônico, ou, como já mencionado por Paulo Freire, uma “rebelião contra a invasão” de nossos territórios. Há uma constante imprescindibilidade de demarcar nossos espaços.
Por conta disso, a capa desta edição conversa com os pontos aqui elencados neste editorial ao exibir a imagem de uma cerca formada por veias e sangue, uma metáfora que busca bem representar a luta sangrenta dos povos tradicionais pela manutenção (e recuperação) de seus territórios, assim como a luta constantes dos educadores-militantes da EJA em prol de nossos espaços. Não obstante essa imagem possa causar incômodo ao leitor, ela se faz estritamente necessária na representação das lutas que se impõem aos invadidos em seus territórios.
Assim, o anseio de nossa equipe editorial é de que os leitores desta edição reflitam sobre a territorialidade nos espaços da EJA, indagando-se sobre quais lugares nos são destinados e quais ainda nos são inviabilizados, a fim de que tal realidade nos impulsione para uma práxis transformadora e emancipatória (cf. Vásquez, 2011; Ramos, 2013; 2014, Saviani, 2005) tão necessária em nosso contexto histórico.
Uma ótima leitura a todos!
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