As memórias olfativas aplicadas ao design de superfícies têxteis
Resumo
A memória olfativa configura-se como uma das estratégias criativas desenvolvidas no trabalho de conclusão de curso do autor, que investiga relações entre alimentação, afetividade e design de moda. Partindo do princípio de que o olfato estabelece conexões diretas com o sistema límbico, sendo capaz de evocar lembranças de forma imediata e vívida, buscou-se explorar sua aplicação em superfícies têxteis como recurso para ampliar a experiência emocional com produtos de moda. Conforme apontam Cardozzo (2008) e Dutcosky (2011), a percepção dos aromas atua como um estímulo privilegiado à afetividade, influenciando a dinâmica psíquica e desencadeando recordações de modo singular. A metodologia adotada consistiu na análise de entrevistas realizadas com três mulheres de diferentes gerações, a partir das quais foram selecionados alimentos recorrentes em suas narrativas, a lasanha, o bolo de morango e o miojo que serviriam de base para a aplicação de sprays olfativos sobre superfícies têxteis, possibilitando analisar como o olfato, associado à materialidade do tecido, poderia potencializar a evocação de memórias e enriquecer a experiência estética e afetiva do usuário. A escolha dos alimentos foi orientada pela identificação da partilha como elemento central dos relatos, compreendida como expressão de convivência familiar e elo simbólico entre memórias distintas. A etapa experimental resultou no desenvolvimento de sprays olfativos que buscaram reproduzir os cheiros dos alimentos selecionados, elaborados por meio de sucessivos testes de proporções e misturas. Foram utilizados ingredientes como temperos industriais, essências aromáticas, álcool de cereais, óleo com especiarias e detergentes diluídos, combinados em diferentes formulações. As composições foram analisadas quanto à cor, intensidade e permanência do aroma, bem como às sensações subjetivas evocadas. Entre os resultados, destacaram-se as formulações associadas à lasanha e ao bolo de morango, consideradas mais bem-sucedidas por evocarem, por meio de uma aproximação material, a identidade olfativa dos alimentos de origem. No caso da lasanha, observou-se predominância de aromas de especiarias, com nuances que remetiam ao preparo artesanal, enquanto no bolo de morango sobressaiu inicialmente a doçura frutada, seguida por notas sutis de baunilha. Já os sprays relacionados ao miojo revelaram limitações, pois apresentaram aroma de rápida dissipação e baixa intensidade, não alcançando a expressividade desejada. A partir dessa análise, essa experimentação evidenciou que o design, ao incorporar recursos olfativos, amplia suas possibilidades de diálogo com a memória e a emoção, operando como mediador entre lembranças subjetivas e materialidade projetual. Os resultados obtidos indicam o potencial do olfato como ferramenta criativa para o design de moda, contribuindo para práticas sensíveis que valorizam vínculos afetivos e experiências de vida como fonte de inspiração e inovação.