O Surrealismo na Moda Contemporânea: uma análise dos desfiles da Maison Schiaparelli
Palavras-chave:
Surrealismo; Moda contemporânea; Schiaparelli; Alta-costura; Linguagem visual.Resumo
O surrealismo, movimento artístico surgido na década de 1920, fundamenta-se na valorização do inconsciente, dos sonhos e do imaginário como elementos criativos capazes de romper com a lógica racionalista. Inicialmente manifestado nas artes visuais, literatura e cinema, o surrealismo encontrou, ao longo do século XX, diálogos expressivos com a moda, especialmente por meio da obra de Elsa Schiaparelli, que em colaboração com Salvador Dalí inaugurou uma linguagem visual marcada pelo estranhamento, pela ironia e pela subversão de convenções estéticas. Nesse contexto, a pesquisa aqui apresentada tem como objetivo analisar a presença de elementos surrealistas na moda contemporânea, tomando como objeto de estudo as coleções de alta-costura da Maison Schiaparelli no período de 2014 a 2025, fase marcada pela atuação de diferentes diretores criativos e pela retomada da marca ao cenário internacional da moda.
A investigação fundamenta-se em abordagem qualitativa, de caráter exploratório, articulando pesquisa bibliográfica e análise documental. A primeira etapa contemplou o levantamento teórico sobre o surrealismo e sua relação com a moda, com base em autores como Freud (1900), Palomino (2002), Lipovetsky (2009), Tavares (2009), Machado (2020) e Garcia (2023). Em seguida, foi realizada uma análise documental de 24 desfiles da maison, disponíveis em plataformas digitais e publicações especializadas. Desse conjunto, três coleções foram selecionadas por sua relevância: a de 2014, sob direção de Marco Zanini, que marcou o retorno da grife à Semana de Alta-Costura de Paris; a de 2019, assinada por Bertrand Guyon, que retomou memórias de infância de Elsa Schiaparelli em diálogo com flores e constelações; e a de 2025/2026, dirigida por Daniel Roseberry, que atualizou a herança surrealista por meio de recursos tecnológicos e narrativas simbólicas inovadoras.
Os resultados apontam que a estética surrealista permanece como eixo estruturante da identidade da Maison Schiaparelli, sendo reinterpretada de acordo com as especificidades de cada direção criativa. A coleção de 2014 resgatou o espírito experimental da fundadora em chave contemporânea, explorando contrastes entre elegância e excentricidade. Já em 2019, a marca evidenciou um surrealismo lírico e poético, resgatando símbolos autobiográficos de Elsa em peças que mesclam tradição e inovação. Por sua vez, a coleção de 2025/2026 demonstrou como o surrealismo se atualiza no século XXI, articulando ilusão de ótica, teatralidade e tecnologia, exemplificado no vestido escultural com efeito de reverso corporal e no colar em forma de coração pulsante, amplamente repercutido pela mídia internacional.